terça-feira, 4 de janeiro de 2011

sem pé, sem cabeça

Da série: eu sou a nata do lixo.

Poucos conhecem o meu Ceará, que é o Ceará que vivi. Quiçá conhecem a parte que está em livros, fotografias, filmes ou novelas. Idas e vindas de lá pra cá me mostraram um bucado de espaços atraentes que turistas-mochileiros-com-espírito-de-aventura gostariam de conhecer. Não é todo dia que a pessoa de 13 anos de idade paga dois reais para ir de Baixio a Ipaumirim dentro de uma combe do Diário do Nordeste sentado sobre os jornais que ainda serão lidos.
Quem é daqui não percebe toda a beleza que há nesse estado. Fenomenal seria se mostrássemos um passeio de barco para saltar de um navio encalhado, o Mara Hope. Contudo, há um certa monotonia para a maioria de nós cearenses de classe média em mostrar os mesmos cartões postais de espaços de uma cultura e atrações privadas ou construídas por empresas e governos: dragão, praia do futuro, beach park e outros pontos clichês (que não devem deixar de ser mostrados, claro). O que estes não sabem é que esses pontos clichês não é conhecido pela maioria dos cearenses. Até o emaranhado que havia no mercado construído pelo tempo e pelo povo foi substituído por passarelas tortuosas no centro da cidade, deixando o verdadeiro centro de lado.
Quando vou pra outro estado, não gosto do turismo de aluguel de quem paga um guia apresentar a história de uma cultura que foi vivida. Gosto de ver a cultura que ainda é vivida. As vezes esperar por um ônibus com ar condicionado da empresa de turismo que a gente contrata é tão limitado que nos faz deixar de sentir o ar da cidade. O vento frio do inverno de São Paulo com um céu cinza de chuva e os carros, túneis, viadutos e prédios frenesiando nos faz sentir o ambiente que a cidade tem. Pegar um ônibus e ir pro terminal da cidade e olhar a rotina da cidade e as diferenças regionais e ainda a unicidade que há no povo brasileiro é curioso. Cada estado tem sua particularidade, e tem um pouquinho de brasil que nos torna todos brasileiros. O que já conheci do mundo de fora me fez ficar com vontade de não sair daqui. Sinto que o Ceará tem tanta cultura, tanta história, tanta natureza quanto qualquer estado pode ter. O que o torna mais ou menos atraente é como é feita a interpretação de cada olhar. Serras, cachoeiras, sertão e mar compõem onde eu quero ficar, por onde a vida alcançar.
E hoje quando olho pro meu bichano feliz em ter alcançado o outro lado da rua por não conhecer muito mais do que isso, e o pouco que conheceu foi um sofrido campus do pici, percebo como isto é uma metáfora do meu mundo. Mas gosto do meu mundo, do jeitinho que ele está sendo construído, falta só uma pintura nova na casa.

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